domingo, 21 de maio de 2023

Atravessamos a floresta que ficava cada vez mais densa, correndo sem parar, até que finalmente chegamos a um pequeno campo aberto, de onde muito provavelmente o barulho tinha vindo, mas não havia nenhum sinal de Kathleen. 


O silêncio era ensurdecedor, mas ainda assim, podíamos sentir a tensão no ar. Olhei para trás e vi Tess com lágrimas nos olhos, sua voz soluçando:


CAPÍTULO IX
SIMPLESMENTE BESTIAL
GLORIA


— Onde ela está?...


Eu não tinha a resposta, mas tinha que manter a esperança.


— Não deve estar muito longe, a voz veio daqui... – disse, tentando acalmá-la.


Ash gritou o nome de Kathleen para os céus, em busca de receber uma resposta, mas o que ouvimos em troca foi o som dos pássaros voando para longe. As nuvens do céu começaram a aparecer devagar, carregadas e escuras, trazendo um mau presságio. O medo se apoderou de mim, sentindo que algo terrível estava prestes a acontecer.


— Temos que encontrá-la – murmurei para mim mesma, enquanto olhava em volta, tentando encontrar qualquer sinal.


A tensão no ar era palpável, e a minha mente começava a se encher de pensamentos sombrios. Será que ainda havia tempo? Será que já era tarde demais? Não sabia, mas sabia que não poderia deixar de procurá-la.


Foi então que Warren cortou o silêncio:


— Precisamos nos dividir. 


Sua voz era firme e determinada, mas eu sentia a hesitação em seus olhos. Eu sabia que ele também estava com medo. Caleb interrompeu antes que Warren pudesse elaborar um plano.


— Não! Não sabemos o que está por aí. Temos que andar juntos! 

— As chances de encontrá-la assim são menores! – protestou Ash. – Precisamos ser rápidos. Tem os celulares com vocês? Mantemos contacto de cinco em cinco minutos e cada um com localização ligada e partilhada. 


Tess deu um passo à frente e colocou o ombro no namorado, que ficou ainda mais preocupado. Ela era mais alta que todos nós e parecia decidida a ajudar.


— Eu vou... eu vou com a Gloria. – disse Tess com determinação. — Não se preocupe comigo, amor

Warren confiava nela, mesmo assim senti um aperto no peito. Em momentos como esse, eles tinham respeito e confiança um pelo outro. Warren abanou a cabeça, concordando, e ficou de bicos de pés para beijá-la.


— Se cuide então, Cupcake. – falou partindo para um caminho entre aberto em meio a floresta. – eu vou com os garotos, então. Mantenham-se em alerta!


Eu e Tess corremos em um caminho que parecia não ter fim, gritando o nome da nossa amiga Kathleen, mas sem obter resposta. O desespero começava a tomar conta de nós, e eu sentia o suor escorrer pela minha testa.


O céu estava escurecendo rapidamente, e o vento começou a soprar, trazendo consigo uma aragem fria e úmida que fazia meu cabelo grudar em minha testa. Sentia uma gota ou outra de chuva cair sobre minha pele, e a minha mente começava a divagar, imaginando as piores coisas que poderiam ter acontecido a Kathleen.



A floresta parecia mais escura do que antes, os galhos das árvores formavam sombras assustadoras que pareciam se mover a cada vento forte. O som dos nossos passos era o único som que podíamos ouvir, mas de vez em quando eu jurava ter ouvido algo se movendo nas folhas. 


Meu coração batia tão forte que podia senti-lo em minha garganta, e me perguntava se estávamos correndo para o desconhecido.


De repente, chegamos a uma encruzilhada que parecia levar a um beco sem saída. Uma placa de madeira com letras grandes escritas à mão dizia "NÃO PASSE, PERIGO" e correntes pesadas cercavam a entrada. Tess e eu olhamos para a placa em choque, sem saber o que fazer. Ela segurava firmemente o celular em sua mão.


— Isso é terrível. – olhei para a placa. – Será que Kathleen veio por aqui?

— Não, ela não é maluca o suficiente para ignorar esses avisos. – Tess respondeu rapidamente, sua voz cheia de preocupação.


Axel, afastou um pouco e voltou para perto de nós chutando um pacote de cigarros esmagado. Tess confirmou que pertencia a Kat, pois o seu pacote era o sabor de menta, o seu favorito. Avançamos mais alguns passos e avistamos um cigarro apagado, como se alguém tivesse sido pego de surpresa.


— Não podemos simplesmente desistir agora. Talvez haja uma maneira de contornar isso. – falei, determinada.

— Mas e se for realmente perigoso? – Tess perguntou, preocupada. – Não quero colocá-la em mais perigo, Gloria. Talvez devamos chamar os outros.

— Vamos ter cuidado redobrado. – respondi, minha mente trabalhando em busca de uma solução. – Não podemos deixar Kathleen sozinha.


Ouvimos o que pareceu ser um estrondo e então decidi que tinha que pular a placa. 


Corri em direção ao som do som, meu coração pulsando forte no peito, sentindo a adrenalina correndo pelo meu corpo. Eu me esforçava para desviar dos obstáculos em meu caminho, saltando sobre galhos caídos e pedras soltas. Quando finalmente cheguei, o alívio de ver Kathleen segura foi instantâneo. Mas minha alegria foi interrompida quando me deparei com seu braço coberto de sangue.


— Kat! – gritei seu nome, correndo em sua direção. Mas antes que eu pudesse alcançá-la, ela virou-se para mim, seus olhos cheios de lágrimas, e fez um gesto para que eu não me aproximasse.


Eu me afastei imediatamente, minha mente em choque e minha respiração presa na garganta e uma sensação de náusea começou a subir em meu estômago com aquele cheiro estranho que nunca tinha sentido na minha vida.  


Foi então que eu ouvi o som horrível do que parecia ser alguém mastigando. 


Tufos de pelo voaram em nossa direção, e pude ver o corpo falecido do Linoone de Kathleen no chão, que agora estava irreconhecível. O Pokémon estava em carne viva, tripas saindo de sua região do estômago, um enorme bico estava alimentando da pobre criatura. 


Fiquei parada, observando em pânico enquanto o monstro se virou em minha direção, levantando o seu bico, sangrento e com algum pequeno pedaço de carne que caiu no chão. Ele era enorme, com pernas longas e musculosas, garras amareladas afiadas como navalhas fincadas no solo, corpo vermelho-alaranjado com plumagem negra como a noite que pareciam ter sido atingidos por eletricidade devido as penas pontiagudas.   


Os olhos amarelos faiscantes pareciam estar me perfurando, me fazendo sentir como se estivesse em um pesadelo.



Eu tentei recuar, mas minhas pernas tremiam tanto que mal consegui dar um passo para trás. A criatura começou a se mover, suas asas estendidas e prontas para o ataque. O barulho das penas se chocando era ensurdecedor, como um trovão distante.


Pela primeira vez em toda a minha vida, vi Axel parado, assustado e sem se mover. Do outro lado, vi a Nickit de Kat completamente nocauteada. Eu não estava preparada para lutar contra um Pokémon tão poderoso. Eu não sabia o que fazer, mas sabia que precisava sair dali o mais rápido possível, lagrimas caíram do meu rosto.


O som das asas do Pokémon se intensificava a cada segundo, e eu sentia como se meu coração fosse saltar do peito. Meus olhos estavam fixos no monstro, enquanto ele dava pequenos passos em nossa direção. Cada vez mais perto. 


Eu não conseguia controlar o tremor em minhas pernas, nem o arquejar de minha respiração. Eu queria sair correndo, queria me esconder, mas meu corpo parecia ter sido congelado pelo medo.


Foi então que ouvi a voz de Tess sussurrando em meus ouvidos, vinda dos arbustos. Suas palavras pareciam distantes, mas eu as ouvi claramente. 


— Não olhe diretamente para ele... Ele é um predador, vai pensar que está o desafiando. Pare de tremer e fique estática, ele vai desistir.


Eu tentei seguir suas instruções, mas meu corpo continuava a tremer e minha respiração era errática. Eu mal conseguia manter meus olhos abertos, mas sabia que não podia perder de vista o monstro.


Kat estava ao meu lado, tentando controlar a respiração ofegante. Axel parecia tão paralisado quanto eu. Eu sabia que tínhamos que encontrar uma saída, mas o medo me impedia de pensar com clareza.


Os minutos se esticavam, cada vez mais longos e angustiantes. Eu sabia que tínhamos que encontrar uma saída, mas minha mente estava em branco. Eu não sabia o que fazer, como agir. Estávamos completamente vulneráveis diante daquele monstro.


Ouvi o agitar dos arbustos e meu coração afundou no meu peito quando o Pokémon parou de andar e começou a mover a cabeça precisamente. Os gritos dos rapazes que entraram no campo se juntaram ao som, enquanto eu queria gritar para que eles parassem antes que fosse tarde demais. Caleb seria morto, e eu sabia que aquele monstro seria a causa.


— O CELULAR APONTOU QUE ELAS ESTAVAM AQUI! - Gritou um dos rapazes enquanto se aproximava. Mas eu já sabia que não havia esperança.


A criatura se ergueu diante de nós, as garras afiadas como navalhas prestes a nos atacar.



Um dos rapazes empurrou-me para longe, e eu me agarrei a Kat para tentar ajudá-la a se levantar. Meu coração disparou quando o monstro atingiu o braço de Ash com suas garras afiadas, e ele gritou de dor.


Eu me levantei com dificuldade, junto de Kat, sentindo o pânico subir pelo meu corpo, enquanto observava a criatura voltar a atacar outro dos rapazes. Tentamos juntas alcançar sua raposa, mas era difícil se mover sob a chuva forte e o barulho ensurdecedor das asas da criatura.


Vi o Vikavolt e Butterfly do grupo caírem no chão, nocauteadas com um forte golpe e bicada na asa.


De repente, a criatura rugiu novamente, desta vez mais furiosa do que nunca. Parecia que estávamos invadindo o território dela e roubando sua comida. Correu em nossa direção, e eu tive que pedir ajuda a Axel, sabendo que seria inútil.


Com um assobio agudo, pedi que Axel fizesse alguma coisa, qualquer coisa, para nos proteger. E então, ele correu para a frente, cuspindo pequenas brasas que pareciam insignificantes diante das chamas que a criatura atirava em nossa direção.


A criatura parou de repente, talvez assustada com o fogo, e voltou a bater as asas formando aquele assustador som de trovão ensurdecedor. Ela soltou um rugido assustado através do bico, como se soubesse que estávamos dispostos a lutar até o fim.


A chuva não ajudava em nada, tornando tudo ainda mais complicado e perigoso. Pedi novamente para que o coelho repetisse o movimento, este ganhou mais confiança formando uma chama maior, mas foi supresso pela fortíssima patada que o acertou, o lançando e minha direção.


Segurei-o no meu colo e fui lançada em direção ao chão com um impacto violento. Rolei pelo chão sujo e molhado, minha boina caindo no chão ao lado de mim enquanto eu tentava me levantar.


A dor percorria meu corpo todo, mas eu sabia que não podia deixar Axel lutar assim. Ele poderia ter sido morto a qualquer momento. Com um gesto rápido, o retornei para sua pokébola, sentindo um nó de desespero.


De repente, uma ideia brilhou em minha mente. Tess correu para o campo, tentando atrair a atenção da criatura com seus movimentos ágeis e sons estranhos.


O Pokémon feroz preparou-se para atacar, pronto para rasgar o corpo de Tess ao meio. Eu não podia deixar isso acontecer. Eu não podia falhar agora. Vi tudo em câmera lenta, as garras amarelas rasgarem cada tecido da roupa colorida de Tess e pronta para perfurar sua carne. Com um movimento, atirei a GreatBall oferecida pela Professora Magnolia que carregava no bolso, sugando a criatura para dentro da esfera bicolor em questão de segundos.



— CORRAM


Gritei desesperadamente para o grupo, tentando me levantar do chão. Minha mente estava em choque enquanto pensava que não poderia deixar o objeto explodir tão perto de nós.


Corri o mais rápido que pude em direção ao grupo, tentando ajudar Tess a se levantar do chão. Ela estava ferida, assim como Ash, que precisava da ajuda de Caleb para andar. Enquanto isso, Kat gritava desesperadamente, tentando voltar para salvar Harley.


— Harley morreu, Kat! Ela está morta! – Warren tentou convencê-la, segurando-a pelo braço enquanto a puxava em direção aos arbustos.


Fui tentando correr disparadamente para próximo do grupo, no caminho, ajudei Tess a se levantar, ela também estava ferida assim como Ash que precisou de ajuda de Caleb para andar.


— Não! Não vou abandonar Harley para trás! Não! – Ela gritava desesperadamente, sendo puxada por Warren para os arbustos. 

— Harley morreu, Kat! Morreu! – ele bradou pra ela, olhando-a nos olhos por uns segundos, querendo tirá-la do choque.


De repente, a pokébola explodiu em pedaços. A explosão de luz nos atingiu em cheio, nos deixando em choque e paralisados. Vimos o Pokémon emergir da esfera, pronta para atacar-nos. Eu sabia que não havia mais nada para nos salvar daquela criatura.


Ela nos encarou por alguns instantes, seus olhos fixos em nós, antes de avançar. Mas, parou, virando-se para o Linoone morto ao lado. Ela agarrou o animal com suas garras afiadas e arrastou-o para os arbustos da floresta.


— NÃO! – gritou Kat, lutando para se libertar enquanto tentava se aproximar da criatura lá do outro lado. Mas eu e os outros a seguramos com força, impedindo que ela cometesse uma loucura. — Harley!! – ela soluçou, deixando as lágrimas escorrerem pelo rosto enquanto a puxávamos para longe do perigo.


Os olhos amarelos da criatura desapareceram em meio à escuridão dos arbustos, sendo a última coisa que vimos. 


Permanecemos parados ali, em silêncio, tentando lidar com a tensão que ainda pairava no ar. Eu me sentia esgotada, tanto física quanto emocionalmente. A tensão que havia antes havia desaparecido, fora substituída pelo pesar e pela reflexão.


O choro alto de Kathleen me puxou de volta à realidade. Senti um aperto no peito ao ver a dor que ela estava sentindo, e me aproximei para tentar consolá-la. Era difícil acreditar que aquele Pokémon que brincou ao nosso lado, minutos atrás agora estava morto, vítima de um combate que parecia tão desnecessário.


Foi assim que nos afastamos, deixando o corpo de Harley para trás, seguindo em frente, mas nunca esquecendo do que havíamos aprendido da pior maneira em como a natureza podia ser cruel e implacável...


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